quarta-feira, 14 de agosto de 2013

i juca pirama - repassado por ivan evaldo kussler e marco pena


Ivam evaldo kussler e Marco postam sobre Gonçalves Dias - fontes citadas

I JUCA PIRAMA


nGonçalves Dias
Gonçalves Dias nasceu em Caxias - MA em 1823 foi estudante de Direito em Coimbra, Portugal.
Em 1843, escreveria o famoso poema Canção do Exílio.
Foi professor, pesquisador realizando várias viagens pelo interior do Brasil e para a Europa.
Em 1846, a publicação de Primeiros Cantos o consagraria como poeta; pouco depois publicaria Segundos Cantos e Sextilhas de Frei Antão (1848) e Últimos Cantos (1851). Neste último livro consta o poema I-Juca Pirama.
Considerado o principal poeta da primeira geração do Romantismo brasileiro, Gonçalves Dias ajudou a formar, com José de Alencar, uma literatura de feição nacional, principalmente com seus poemas de temática indigenista e patriótica.
Morreu em Baixo dos Atins - MA 1864.
nI-Juca Pirama
O título significa (tradução do tupi) , “o que há de ser morto, e que é digno de ser morto.” Ou simplismente, “aquele que é digno de ser morto”.
Mesmo sendo um poema épico, encontramos todo o tempo, o lirismo espontâneo, cheio de emoções, subjetividade e musicalidade típicas do Romantismo.
Um indianismo idealizado, no qual o índio é ligado aos seus costumes, integrado à natureza, honrado (quase um cavaleiro medieval) e exemplo do “bom selvagem”.
Ao fim e ao cabo, esse índio de Gonçalves Dias é um símbolo, uma figura poética... Expressão do desejo dos românticos em relação ao passado brasileiro.
Estrutura do poema:
Foco narrativo:
Narrado na 3ª pessoa (um índio timbira) que relata para a “geração atual” as proezas de um guerreiro tupi que esteve tempos atrás na aldeia. O narrado é onisciente e onipresente.
É a história de um guerreiro tupi que deveria servi de comida num ritual antropofágico entre os Timbiras.
Tempo e espaço:
Uma tribo timbira, provavelmente, no interior do Brasil (Maranhão) no tempo da colonização portuguesa
Personagens:
I – Juca Pirama – índio, herói idealizado, perfeito
O velho tupi – pai de I-Juca Pirama. Símbolo da tradição (tupi)
O velho timbira – narrador e “personagem” ocular da história
Os Timbiras – tribo conhecida pela sua ferocidade e pelo canibalismo (antropofagia)
.
Forma e divisão do poema:
-Gonçalves Dias busca na sua poesia adequar forma e conteúdo, nesse sentido, alterna verso longo e curso, versos lentos (descrição) e versos rápidos (ação).
-O poema é dividido em 10 cantos como uma composição épico-dramática. Tudo isso em função de definir um índio que simbolize os ideais de honra, heroísmo... Desejados pelo poeta que sejam... que se tornem, enfim, o caráter do próprio povo brasileiro.
História:
O poema narra o drama de I-Juca Pirama (aquele que vai morrer), último descendente da tribo tupi, que é feito prisioneiro de uma tribo inimiga.
Movido pela amor filial, pois o índio tupi era arrimo de seu pai, velho e cego, I-Juca Pirama, contrariando a ética do índio, implora ao chefe dos timbiras pela sua libertação. O chefe timbira a concede, não sem antes humilhar o prisioneiro.
Solto, o prisioneiro reencontra-se com seu pai, que percebe que o filho havia sido aprisionado e libertado. Indignado, o velho exige que ambos se dirijam à tribo timbira, onde o pai amaldiçoa violentamente o jovem guerreiro que ferido em seus brios, põe-se sozinho a lutar com os timbiras.
Convencido da coragem do tupi, o chefe inimigo pedi-lhe que pare a luta, reconhecendo sua bravura. Pai e filho se abraçam - estava preservada a dignidade dos tupis.
nCanto a Canto
Canto 1 - Apresentação e descrição da tribo dos Timbiras. Como está descrevendo o ambiente, o autor usa um verso mais lento e caudaloso, que é hendecassílabo (onze sílabas).
No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos — cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d’altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.
(...)
Em tanto as mulheres com leda trigança,
Afeitas ao rito da bárbara usança,
O índio já querem cativo acabar:
A coma lhe cortam, os membros lhe tingem,
Brilhante enduape no corpo lhe cingem,
Sombreia-lhe a fronte gentil canitar,
Canto 2 - Narra a festa canibalística dos timbiras e a aflição do guerreiro tupi que será sacrificado. O poeta alterna o decassílabo (dez sílabas) com o tetrassílabo (quatro sílabas), o que sugere o início do ritual com o rufar dos tambores.
Que tens, guerreiro? Que temor te assalta
       No passo horrendo?
Honra das tabas que nascer te viram,
       Folga morrendo.
Folga morrendo; porque além dos Andes
       Revive o forte,
Que soube ufano contrastar os medos
       Da fria morte.
Canto 3 - Apresentação do guerreiro tupi – I – Juca Pirama. Sem se preocupar com rimas e estrofação, novamente num ritmo mais lento, que se casa bem com a apresentação feita do chefe Timbira.
"Eis-me aqui", diz ao índio prisioneiro;
"Pois que fraco, e sem tribo, e sem família,
"As nossas matas devassaste ousado,
"Morrerás morte vil da mão de um forte."
Vem a terreiro o mísero contrário;
Do colo à cinta a muçurana desce:
"Dize-nos quem és, teus feitos canta,
"Ou se mais te apraz, defende-te." Começa
O índio, que ao redor derrama os olhos,
Com triste voz que os ânimos comove.
nCanto 4 - I - Juca Pirama aprisionado pelos Timbiras declama o seu canto de morte e pede aos Timbiras que deixem-no ir para cuidar do pai alquebrado e cego. Num ritmo ligeiro, dá a impressão do rufar dos tambores.
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi. Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
  Guerreiros, ouvi.
Já vi cruas brigas,
De tribos imigas,
E as duras fadigas
Da guerra provei;
Nas ondas mendaces
Senti pelas faces
Os silvos fugaces
Dos ventos que amei.

Andei longes terras
Lidei cruas guerras,
Vaguei pelas serras
Dos vis Aimoréis;
Vi lutas de bravos,
Vi fortes — escravos!
De estranhos ignavos
Calcados aos pés.
E os campos talados,
E os arcos quebrados,
E os piagas coitados
Já sem maracás;
E os meigos cantores,
Servindo a senhores,
Que vinham traidores,
Com mostras de paz.
Aos golpes do imigo,
Meu último amigo,
Sem lar, sem abrigo
Caiu junto a mi!
Com plácido rosto,
Sereno e composto,
O acerbo desgosto
Comigo sofri.
Meu pai a meu lado
Já cego e quebrado,
De penas ralado,
Firmava-se em mi:
Nós ambos, mesquinhos,
Por ínvios caminhos,
Cobertos d’espinhos
Chegamos aqui!
O velho no entanto
Sofrendo já tanto
De fome e quebranto,
Só qu’ria morrer!
Não mais me contenho,
Nas matas me embrenho,
Das frechas que tenho
Me quero valer.
Então, forasteiro,
Caí prisioneiro
De um troço guerreiro
Com que me encontrei:
O cru dessossêgo
Do pai fraco e cego,
Enquanto não chego
Qual seja, — dizei!
Eu era o seu guia
Na noite sombria,
A só alegria
Que Deus lhe deixou:
Em mim se apoiava,
Em mim se firmava,
Em mim descansava,
Que filho lhe sou.
Ao velho coitado
De penas ralado,
Já cego e quebrado,
Que resta? — Morrer.
Enquanto descreve
O giro tão breve
Da vida que teve,
Deixai-me viver!
Não vil, não ignavo,
Mas forte, mas bravo,
Serei vosso escravo:
Aqui virei ter.
Guerreiros, não coro
Do pranto que choro:
Se a vida deploro,
Também sei morrer.
Canto 5 - Ao escutarem o canto de morte do guerreiro tupi, o chefe dos timbiras entende ser aquilo um ato de covardia e desse modo desqualifica o índio tupi para o sacrifício. Dando a impressão do conflito que se estabelece e refletindo o diálogo nervoso, entre o chefe Timbira e o índio Tupi, o poeta altera o decassílabo com versos mais ou menos livres. Não há preocupação nem com estrofes nem com rimas.
Soltai-o! - diz o chefe. Pasma a turba;
Os guerreiros murmuram: mal ouviram,
Nem pode nunca um chefe dar tal ordem!
Brada segunda vez com voz mais alta,
Afrouxam-se as prisões, a embira cede,
A custo, sim; mas cede: o estranho é salvo.

Timbira, diz o índio enternecido,
Solto apenas dos nós que o seguravam:
És um guerreiro ilustre, um grande chefe,
Tu que assim do meu mal te comoveste,
Nem sofres que, transposta a natureza,
Com olhos onde a luz já não cintila,
Chore a morte do filho o pai cansado,
Que somente por seu na voz conhece.
- És livre; parte.
- E voltarei.
- Debalde.
- Sim, voltarei, morto meu pai.
- Não voltes!
Canto 6 - O filho volta ao pai que não entende a demora do filho e ao pressentir o cheiro de tinta dos timbiras que é específica para o sacrifício desconfia do filho e obriga o filho a voltar novamente para a tribo dos timbiras, lá descobre que o filho chorou e foi desqualificado para o sacrifício, assim, o velho pai, não sabendo (ou entendendo) o gesto do filho, fica chocado com ato tão vergonhoso para o povo tupi.
Reproduzindo o diálogo entre pai e filho e também a decepção daquele, o poeta usa decassílabo juntamente com passagens mais ou menos livres. Não há preocupação com rimas ou estrofes.
- Tu prisioneiro, tu?
- Vós o dissestes.
- Dos índios?
- Sim.
- De que nação?
- Timbiras.
- E a muçurana funeral rompeste,
Dos falsos manitôs quebraste a maça...
- Nada fiz... aqui estou.
- Nada! -
Emudecem;
Curto instante depois prossegue o velho:
- Tu és valente, bem o sei; confessa,
Fizeste-o, certo, ou já não foras vivo!
- Nada fiz; mas souberam da existência
De um pobre velho, que em mim só vivia....
- E depois?...
- Eis-me aqui.
Canto 7 - Sob alegação de que os tupis são fracos, o chefe dos timbiras não permite a consumação do ritual. Num ritmo constante, marcado pelo heptassílabo (sete sílabas), o poeta reproduz a fala segura do pai humilhado e do chefe Timbira. A estrofação e as rimas são livres.
Pai:
  "Por amor de um triste velho,
Que ao termo fatal já chega,
Vós, guerreiros, concedestes
A vida a um prisioneiro.
Ação tão nobre vos honra,
Nem tão alta cortesia
Vi eu jamais praticada
Entre os Tupis, - e mas foram
Senhores em gentileza.
(...)
Chefe Timbira:
  “Responde com tôrvo acento:
- Nada farei do que dizes:
É teu filho imbele e fraco!
Aviltaria o triunfo
Da mais guerreira das tribos
Derramar seu ignóbil sangue:
Ele chorou de cobarde;
Nós outros, fortes Timbiras,
Só de heróis fazemos pasto.
Canto 8 - O pai envergonhado maldiz o suposto filho covarde. Para expressar a maldição proferida pelo velho pai, num ritmo bem marcado e seguro, o poeta usa o verso eneassílabo (nove sílabas), com rimas alternadas e paralelas.
"Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés”. (...)
Canto 9 - Enraivecido o guerreiro tupi lança o seu grito de guerra e derrota a todos valentemente em nome de sua honra. Casando-se com o tom narrativo e a reação altiva do índio Tupi, o poeta usa novamente o decassílabo com estrofação e rimas livres.
— Basta! Clama o chefe dos Timbiras,
— Basta, guerreiro ilustre! Assaz lutaste,
E para o sacrifício é mister forças. —
O guerreiro parou, caiu nos braços
Do velho pai, que o cinge contra o peito,
Com lágrimas de júbilo bradando:
"Este, sim, que é meu filho muito amado!
"E pois que o acho enfim, qual sempre o tive,
"Corram livres as lágrimas que choro,
"Estas lágrimas, sim, que não desonram."
Canto 10 - O velho Timbira ( narrador ) rende-se frente ao poder do tupi e diz a célebre frase: "meninos, eu vi". O poeta fecha o poema, de forma harmoniosa e ordenada, o que reflete o fim do conflito e a serenidade dos espíritos.
Um velho Timbira, coberto de glória,
      Guardou a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi!
E à noite, nas tabas, se alguém duvidava
      Do que ele contava,
Dizia prudente: — "Meninos, eu vi!
"Eu vi o brioso no largo terreiro
      Cantar prisioneiro
Seu canto de morte, que nunca esqueci:
Valente, como era, chorou sem ter pejo;
      Parece que o vejo,
Que o tenho nest’hora diante de mi.
"Eu disse comigo: Que infâmia d’escravo!
      Pois não, era um bravo;
Valente e brioso, como ele, não vi!
E à fé que vos digo: parece-me encanto
      Que quem chorou tanto,
Tivesse a coragem que tinha o Tupi!"
Assim o Timbira, coberto de glória,
      Guardava a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi.
E à noite nas tabas, se alguém duvidava
      Do que ele contava,
Tornava prudente: "Meninos, eu vi!".
 

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